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Perecer

deixar ruir

ver a natureza

transformar

sentir a morte

como nascimento

a magia

desse encontro são

ventos que correm

comem

moldam tudo

tempo

espaço

ser

aterram o que é da terra

e desprendem o que que é de voar

cidade móvel à velocidade dos mares

submerge

é mar de homens ignorantes

aos desvios

impermanência das vidas

movimento em fluxo

selvagem é o reino

o tremendo ruir

que desatina

incorpora

cria

rio

de

muitas

vidas

assoreando

tudo que nasceu e se

criou

rio

de tantas mortes

construindo

tudo que pertenceu e se

abrigou

tudo passa

deságua

salga

no mar

para aqueles que

sentem

a poesia

brotar

e como num golpe de alegria e dor

veem a morte

sendo vida a recuar

A série faz parte da fábula visual “Entre casuarinas e gnomos” do portal de Chapéu do sol à Atafona dando a volta na lagoa de Iquipari, mágicos territórios no litoral norte-fluminense.  “Uma dentadura do fundo do mar é levada pelas ondas ocres até a boca de um bagre que prestes a sufocar com o vento sul a cospe para longe e se vê livre de novo a abocanhar. Num encontro com uma ostra, nem deu chance a ela se pronunciar sorveu o marisco mole e suculento, sentia vida e carne em seus dentes e deixou a casca em concha pra lá. E logo após abrir o apetite, lembrou da boca que lhe prendia que só sabia profetizar, e sentiu ao redor que tudo corre, tudo morre, tudo continua a viver. Pensou que a vida é perene, tem presença, estrutura, gosto e textura, mas se vai. Pululando, seguiu por dunas, enfrentando correntes, só não queria voltar pro mar”.

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